De um tecto - o da Sé de Portalegre (da cidade que dizem ser Barroca) - ao «alisar» das formas arquitectónicas*
Na Sé Catedral desta cidade não se pode fotografar.
É mais do que lamentável, embora se perceba que com os telemóveis muito polivalentes que hoje muitos temos, os registos fotográficos ficam facilitados.
Assim, à socapa ou não (? já que Deus tudo vê, e estávamos dentro da igreja...), um dos registos mais bonitos que aí fiz foi da capela de S. Pedro. Já se mostrou, e eu própria fiquei surpreendida com a qualidade da imagem: por alguma profundidade de campo (a fotografia foi feita à distância), estando tudo em foco, quer nos planos mais à frente e ainda nos que estão mais atrás; mas sobretudo, porque o modelo fotografado (a referida capela) é muito bonito.
(excerto Capela de S. Pedro)
Acontece que connosco, muitas vezes fazemos à antiga. Se não há fotografias, então esquematiza-se ou desenha-se!
Portanto, no desenho seguinte, usando as costas de um bilhete que andava na carteira, o mesmo serviu para um registo rápido:
Nele estão, como se pode ver, os mesmos losangos de lados curvos e côncavos, que também estão em Monserrate, na grade de um ou vários portões. Claro que nesta casa de Sintra - dita revivalista - já as formas estão lá, só a reviver e a decorar.
Porque já não é uma decoração enfática e afirmativa de algum sentido, ou alguma ideia, como se vê nas obras medievais:
É que esses LOSANGOS CURVOS, por vezes também designados LISONJAS, e tão frequentemente usados como «contentores significantes» - para aludir a Nossa Senhora -, em Monserrate eles são meramente decorativos, sim!
Mas são-no, com o sentido contemporâneo (e muito mais restrito) da palavra decoração. Dir-se-ia que são algo como uma animação visual, para não ficar vazio...
Por fim, lembre-se, que foi este sentido decorativo, o inicial, que ao estar perdido fez com que (o arquitecto) Adolf Loos associasse Ornamento e Crime.
No que se veio a tornar um Manifesto, o qual por sua vez deu origem (ou abriu a porta?) ao «despir e ao alisar», crescente, da Arquitectura feita daí em diante.
Num próx. post, a contracapa deste livro, e aquilo que A. Loos, mais tarde considerou ser consequência do seu trabalho. Ler, indo por aqui
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*Pode parecer pretensioso, como se neste post tão curto pudesse caber tanto! Só que, e sendo talvez um post repetido (?), hoje, de certeza, numa outra perspectiva: i. e., a incluir um «curto-circuito» que apeteceu fazer, por estar tudo à mão, como está o livrinho de Adolf Loos. Por outro lado, é bom que as pessoas de Portalegre - embora esta cidade esteja menos divulgada e seja menos conhecida do que Évora -, que tenham a noção de que há em PORTALEGRE valores que são únicos, irrepetíveis e muito originais!