Blog experimental, dedicado a uma ala do Palácio Amarelo de Portalegre. Verdadeira «Casa de Bonecas», onde, seguindo a tradição, há sinais e emblemas de nobreza. Assim: Casa Amarela, Cas'Amarela, ou CasAmarela
Blog experimental, dedicado a uma ala do Palácio Amarelo de Portalegre. Verdadeira «Casa de Bonecas», onde, seguindo a tradição, há sinais e emblemas de nobreza. Assim: Casa Amarela, Cas'Amarela, ou CasAmarela
A visita a Portalegre ficou esplendidamente ilustrada neste post da Sofia BRUSCHY, que já mereceu (aqui) os nossos agradecimentos.
Só que, e para variar (não se pense que é obsessão... *) um dos maiores fascínios destas andanças foi encontrar, ainda na Beira Baixa, em Idanha-a-Velha, alguns Ideogramas num Portal de Igreja.
Semelhantes - mas postos como numa tabela, àqueles que vamos rabiscando em notas (quase como "doodles", que fossem nossos) - aos que vamos desenhando, em sucessivas recapitulações, e até ordenações numéricas, de quem (nós) os está a querer coleccionar, e perceber: sempre melhor.
(claro que, caso haja interesse, temos muito gosto em explicar o que supomos terem sido os significados dos 10 ideogramas acima, rabiscados numa página do Expresso de Outubro de 2023)
Neste exemplo (mas temos muitos mais nas nossas colecções...), estão numerados 6 ideogramas, embora, como é visível, tenham sido desenhados 10.
Nunca chegámos ao ponto de listar, todos os que conhecemos, como por exemplo tem feito o Luís Lobato Faria, nas suas tentativas de ordenação e classificação. Embora, essas suas tentativas sejam um caminho diferente do nosso, altamente meritório, como se vê neste post.
Mas é porque nós entendemos, dever ser na raiz geométrica - ad triangulum ou ad quadratum (por exemplo) - que se deve tentar obter a diferenciação de alguns dos vários sinais ou ideogramas que existiram, e se encontram hoje. Por muito paradoxal que isto seja para todos os estudiosos da Arte antiga e tradicional.
Já que, insistimos, e por mais estranho que possam parecer estas designações, elas - "ad triangulum" e "ad quadratum" - foram consequência dos diferentes entendimentos, e da diferente compreensão (ou, dito de outro modo, o conhecimento de Deus pelos homens) da "estrutura divina" (**).
Assim, e voltando ao nosso passeio pelo interior granítico, aqui ficam várias imagens da Igreja da Misericórdia de Idanha-a-Velha, com aproximações ao Portal onde se vêem diferentes Ideogramas.
(vista geral)
(ampliação com acentuação de contraste para destaque do relevo e da cor)
(outro ângulo, com mais sombra dos relevos, para melhor visão das ideogramas esculpidos)
Nestas ampliações feitas vêem-se vários ideogramas iguais - com a cruz em aspa (predominante) -, postos nos silhares que formam as ombreiras, e também alguns outros, embora mais apagados, nas aduelas do arco (a encimar a porta).
Devendo notar-se que, neste exemplo, não são simples riscos que foram feitos ou incisos nas pedras, mas que há um desbaste propositado do material circundante (portanto mais trabalho e mais cuidado), para que apareçam esculpidos: i. e., com algum relevo.
Em suma, pode-se dizer - do que é dado ver -, que apesar de ser de um modo muito incipiente, quase pobre, tentaram construir, e contribuir, para alguma monumentalidade que o referido portal consegue apresentar.
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(*) Honi soit qui mal y pense!
(**) Expressão que já deixámos no nosso estudo dedicado a Monserrate, depois de a termos aprendido com Mark Gelernter, e de nos termos apropriado dela, por ser conceptualmente muito útil
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Sobre a origem do desenho da Cruz em Aspa, várias vezes empregue nas molduras deste portal de Idanha-a-Velha, vejam este nosso desenho.
Será que devia ser representada como os Anjos : talvez como os Serafins, i. e., com seis Asas?
Ou, talvez mais com uma Aura Quadrada? ... por toda a imensa correcção, que foi e teve, durante quase 104 anos de vida...?
Ou será que - e enfim, definitivamente -, deveríamos pôr-lhe uma Aura Circular? ... como são todas as formas de todas as figuras do Céu ... ?
Sei lá, sabe-se lá ?! Não sabemos...
... nem há palavra, ou tradução em português, para aquilo que foi, tanto que nos deu e nos deixou!
E porque as tarefas rotineiras, mecânicas - como eram horas e horas de tricot - lhe deixavam a mente livre, podia ter escrito...
Mas, de certeza, preferiu pensar, Pensar e re-PENSAR !
Ou LER, e LER, e LER...
Portanto, para além das receitas dos trabalhos manuais - sempre o tricot (e também a culinária * ) -, só sobrou algum postalinho (e esse nem sei onde pára...?) a contar ao seu pai as férias do verão de 1950, em Portalegre, com a família.
Sim, passadas na Casa Amarela!
E em que um dos filhos, «oh grande gracinha» para mostrar à tia-avó, começou a andar... (**)
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(*) "A melhor reacção à sobrecarga de estímulos, seja de informação ou de objectos artísticos, é manter a cabeça desocupada, para poder receber os estímulos interiores: os seus que vêm de dentro de si e não são protegidos por mais ninguém." Ver em Miguel Esteves Cardoso, Como escrever. Bertrand Editora, Lisboa 2024, ver na p. 67.
A moda do tricot em França, já existia desde meados do séc. XIX. Seria, quem sabe, o início de uma obsessão colectiva? (diz quem adora tricotar, e sabe a calma que induz). Foi em meados do XIX que D. Francisca de Bragança viajou entre o Brasil e Paris, para casar com o Príncipe de Joinville. Durante a viagem é notória a preocupação de aprender a tricotar, como já se fazia na corte em que iria viver. Ler no Diário da Viagem de D. Francisca de Bragança - 1842-1843 - A Bela Chica Alteza Imperial do Brasil, Infanta de Portugal, Princesa Real de França. Estudo Introdutório de J. A. Ribeiro
e António Cóóósta deixou-nos um Logóóóótipo redutor **.
Sim, redutor do país, nada radical - mas também um óptimo resumo da sua própria pessoa!
E nada radical porque usado como antónimo: ao funcionar ao contrário! Quando corta as raízes, e os elos, que sempre ligaram entre si todas as imagens com características simbólicas/heráldicas.
Como é exemplo a imagem seguinte existente em 4 pilastras côncavas, numa das salinhas da Casa Amarela de Portalegre:
Imagem representação do Infinito, que, em geral, se vê como um oito ao baixo, mas que aqui está ao alto. Numa representação que, supõe-se talvez seja rara...?
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* Ajuda que pode ser de carácter científico e operacional - não forçosamente dinheiro! Sobretudo, já poderá ser ajuda se não forem «regras labirintícas»; em geral feitas propositadamente para que as pessoas evitem recorrer aos apoios estatais!
Seria uma imensa coincidência se estas peças de um serviço de chá tivessem estado, já, durante anos (até décadas), num armário, certamente um lindíssimo louceiro, da Casa Amarela?
E num louceiro de vidrinhos, como os que Félibien nos apresenta no seu Tratado... ?
Perguntamos, mas não sabemos..., embora tenhamos a certeza que terão vindo de Portalegre, o mais tardar por volta de 1935-38*.
Certo mesmo é que por as acharmos muito bonitas, há uns anos, decidimos reproduzi-las, desenhando-as a aguarela.
Mas, quem ensinou "Desenho Laboratorial" - nesta designação moderna, pretensiosa e colada à força, a uma disciplina de desenho à vista (onde nunca se viu nada de laboratorial...!) - enfim, nós próprios, donos dos nossos trabalhos, podemos dar-lhes, ao que são ensaios e experiências, os tratos de polé que muito bem nos apetecer!
Portanto, a imagem acima hoje chama-se joining pieces. E, apetecia acrescentar-lhe - one more piece (para além da esferográfica) - que é o modernismo de uma certa tapeçaria de E. Nery que está no Museu em Portalegre. Pois sendo nas mesmas cores, «ficaria lindamente»!
Só que, apesar de muito apetitoso, irá ficar por aqui (ao que parece).
Unless (ou a menos que...), aparecesse por aí um Pai Natal, híper-generoso, e levasse esse desejo nosso, verdadeiro capricho (de que a arte, quase sempre foi feita!!!) bem mais longe:
Mas porque sonhar não tem preço, nem paga impostos (ainda por cima de quem estando acordado, «sonha, tecla e dactila»), mesmo lindo, lindo, lindo, era transpor esse desenho, para dimensões gigantes - para uma parede de 4 m x2,5 m - numa enorme tapeçaria!
Enfim, é o que pedimos ao Père Noël, nesta hora em que deve estar atarefadíssimo; quem sabe se barrigudo, ainda consegue entrar nalgumas chaminés (de avac)? Quanto mais ser capaz de nos ouvir!
Já ao Menino Jesus preferimos pedir outras coisas, bem mais difíceis:
Paz para a Europa, e para o Mundo: fim das guerras e dos genocídios atrozes, vergonhosos, alguns feitos em nome das religiões (quando Religare, e não guerrear que é o que mais acontece, é ainda a origem da palavra Religião, e Religiões... - vinda do latim)
Mais, e como há dias dizia uma amiga (caixa no supermercado):
"Que o aniversariante, não seja o principal esquecido, o posto-de-lado..."
Já que é em nome Dele, que tudo se festeja (ainda) por estes dias
Por este link podem aceder ao conhecimento da «tristeza» que agora vai em Portalegre
Como se percebe estamos perante entidades e personalidades que "acordaram tarde e a más horas ...."
Será que ainda a tempo, de se poder reverter tanto descuido e abandono do interior?
Daqui - de dentro da ala sul do Palácio Amarelo, temos tentado chamar a atenção de alguns responsáveis, pelos valores e património cultural desta cidade, que, mereceria bastante mais atenção...
Claro que a Sé de Portalegre nos lembra Vítor Serrão*, mais os seus «azares» com a Geometria, aquela ciência da matemática com que ele não atina!
(e assim rima...)
Nesse esboço riscado em 2019 (anterior às obras), descobrimos - por tê-lo feito - enormes parecenças com a porta da Igreja do Senhor de Matosinhos.
Será que ele, o Vítor (pois claro) tem fotografias dessa porta? E pode fazer-nos o favor de comparar as imagens e os padrões? Os que apesar de geométricos - e para si supostamente abstractos -, têm para nós nomes e regras, a que obedecem;
E ainda ideias a que se associam!
Será? Fica o desafio, que é sem dúvida uma forma de lhe proporcionar - a ele Vítor, quiçá? - um outro, novo paradigma de "extractivismo intelectual" ?
Pois já que extraiu a aluna, por essa conhecer, de um malfadado SABER, do qual ele não sabe nada: a Geometria de Hugo de S. Victor (e de Isidoro de Sevilha); no mínimo que ele viesse a saber, no futuro, o óbvio e o básico, para depois poder falar de imagens, e da sua relação com a Arte ** !
É proibido associar as grades das varandas - as Rejas do Palácio Amarelo - , com as grades da porta da Capela de S. Pedro na Sé: como se houvesse semelhanças, até "fortuna critica" , ou alguma espécie de diálogo possível, entre as duas obras ? Proibido ...
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* O auto-designado "operário da memória" , que afinal, pergunta-se, o que terá ele lido de Hugo de S. Victor, «seu padroeiro»? Saberá que para Hugues de Saint-Victor a Geometria era, mais do que a primeira ciência - "...source des sensations et l'origine des expressions". ? Citação mais que lembrada que outra vez se recorda ao «dito operariado» para ter em devida conta...
** Vícios de arquitectos. I. e., dos que sempre exigiram à Geometria, que lhes trouxesse soluções para as questões. Não só as práticas, relativas aos encaixes (mecânicos) das diferentes peças, como num puzzle; mas, e em simultâneo, as poderosas regras directrizes, significantes.
Em obra, sempre que queríamos preparar os trabalhos seguintes, sobretudo os de carpintaria - feitos aliás com um carpinteiro que já conhecia há muito anos - a maioria das vezes obtinha-se uma resposta muito engraçada:
"Tenha calma sra. arquitecta, vamos mais devagar, porque é ao pé da obra que se talha o pano !"*
Acontece portanto, que aqui chegados ao pé da obra (a esta Casa Amarela de Portalegre), em 2013-2014, viemos encontrar - no espaço próprio - a Iconografia cujo significado se tinha encontrado na FLUL uns bons anos antes [é a ideia de Conveniência e Décor referida por Vitrúvio, e que em História da Arte não tem sido valorizada...].
Imagens que já tínhamos visto muito semelhantes no Mosteiro da Batalha e que vamos coleccionando, vindas de muitos outros monumentos. Juntamo-las como prova de que não se tratavam de sinais ou saberes ocultos (como por exemplo Lima de Freitas fez parecer); ou, sinais exclusivos de uma «elite mais informada», que estivesse por dentro de certos assuntos**.
Mas sim (e é como vemos estas questões e problemáticas), de sinais que usados articuladamente, como em geral se fez na arquitectura religiosa, criaram narrativas de carácter simbólico.
O que se sublinha, visto defendermos, que todo o discurso arquitectónico, assim elaborado (i. e., com sinais visuais, desenhos, jogos e efeitos de luz - os vitrais em janelas com formas específicas), esses discursos pretendiam construir em narrativa visual, e só por imagens, o que no Símbolo da Fé (também designado de Niceia-Constantinopla) se proclama com o apoio das palavras... Ou seja, diz-se o mesmo, mas com outros meios.
Concretamente, os referentes que alertam o cérebro para aquilo que se está a discursar e a proclamar, são imagens. Por isto, vistas por autores como Frances Yates ou Mary Carruthers, como imagens dirigidas à mente e à memória. Portanto mnemotécnicas.
E aqui (Casa Amarela, ala sul, na zona que terá sido, porventura a mais antiga?) temos nos 4 cantos da sala - onde nascem duas diagonais a que chamamos Ogivas Barrocas - enfática e retoricamente dispostos, temos 4 conjuntos de argolas.
Parecem "8", por estarem ao alto, mas na verdade são Símbolos do Infinito.
Assim ----» ∞ ∞ ∞. Os quais, todos dizemos são como "8" deitados.
Aqui, agora visível nas fotografias, os dois círculos estão ao alto - alinhados com a vertical - o que faz com que a Mandorla se assemelhe a um Peixe:
É o ICHTHUS ou ICHTHYS que tantas vezes, naquilo a que é comum chamar-se «simbologia», refere o nome de Cristo (ίχθύζ - em grego)
A seguir, nas imagens em sequência, explica-se o desenho da Mandorla, e como desse desenho - geométrico rigoroso (a intersecção dos círculos que é descrita como a linha circunferência de um, a passar pelo centro do outro ***) - nasce a cruz em aspa (fig. 3), o losango (fig. 4), e ainda (na fig. 5) mostra-se como a cruz em aspa, tal como o losango, reúne 2 triângulos equiláteros
Confirmem ainda aqui, com a mesma origem, a razão do colar do rei D. Manuel I, e neste outro post, vejam que se trata de geometria que, dados os ângulos formados (de 60º) foi designada Ad Triangulum
Captar as riscas da vinha, que, lá ao fundo, mais ou menos verdes, criam contraste cromático com a terra alaranjada. Ainda com uma casa ao fundo, que à vista, pouco ou nada se distingue...
Era um desafio, conseguir, mais ou menos, pôr no papel a imagem visível - concretamente a que se forma no fundo da retina, e chega à mente.
Mas depois, medianamente atingido o objectivo (com um resultado não totalmente satisfatório), então não apetecia mais parar.
Foi quando se passou a desenhar para fora da tira cortada há anos (e não havia outra, própria para aguarela...) passando a usar o papel branco, de máquina (80 grs.), que estava por baixo.
De novo, apesar dos resultados medianos, mas com o apetite de desenhar com cores não propriamente realistas, a crescer, e de experimentar expressões interessantes, foi apetecendo continuar.
No fim, claro que o papel demasiado fino e sem estrutura enrugou, mas de uma maneira que faz lembrar a claridade do fim do dia: quando irradia e se expande a luz, vinda de trás da montanha
Do «expressionismo» passou-se ao traço mais certo (quase corrector) da caneta bic, mas também à necessidade de fazer menos manchas e obter mais definição.
Foi quando fomos buscar os binóculos.
E com o maior gozo apercebemo-nos da escadaria no embasamento do monumento (igreja da Penha).
Só que não estava acabada a tarefa:
Valia a pena comparar com um outro desenho, já feito há alguns anos, e que nos tinha feito gastar muito mais tempo...
Nenhum é totalmente satisfatório, é impossível apanhar com toda a minúcia uma área tão grande e repleta de detalhes, mas é divertido ir tentando outros traços, outras expressões, e quem sabe (um dia?) agarrar numa trincha, e num gesto único captar/pintar só o essencial...