Blog experimental, dedicado a uma ala do Palácio Amarelo de Portalegre. Verdadeira «Casa de Bonecas», onde, seguindo a tradição, há sinais e emblemas de nobreza. Assim: Casa Amarela, Cas'Amarela, ou Casamarela
Blog experimental, dedicado a uma ala do Palácio Amarelo de Portalegre. Verdadeira «Casa de Bonecas», onde, seguindo a tradição, há sinais e emblemas de nobreza. Assim: Casa Amarela, Cas'Amarela, ou Casamarela
Sempre que oiço esta expressão "à vol d’oiseau" , tenho que me lembrar da Professora da UCP - do CEHR - que anteviu os meus estudos (de Doutoramento) como uma travessia "à vol d’oiseau" pela Iconografia da Arte*. Um trabalho que ela achava utilíssimo e portanto incentivou a que o fizéssemos.
Só que, a expressão serve para outras situações, concretamente para aquelas em que terá nascido. Isto é, quando algum tratadista francês, como supomos vagamente (ou até já lemos sobre isto...?), teve a noção que certas perspectivas aéreas seriam a possível visão de um pássaro.
Desta vez, imaginativamente, fizemos de drone (ou de cegonha, que é um animal mais comum na planície alentejana) voando sobre montes abandonados, os quais, daqui a alguns anos** serão confundidos, facilmente, com as antigas villae romanas
*Naturalmente, e especificando algo mais, para os que possam precisar dessa informação: a Arte que Martin Kemp - em História da Arte no Ocidente - dividiu por períodos, minimamente lógicos e coerentes; sendo que ao segundo período, Parte 2 deu esta designação muito significativa: Igreja e Estado: O Estabelecimento de Uma Cultura Visual Europeia 410-1527.
Apesar de, como se tem dito, aqui falte muita coisa – que consta normalmente nas listas que definem os parâmetros de conforto – há no entanto muitas outras vantagens de estar em Portalegre:
Que vão de silencio ao ar puro que se respira, ao desafogo, à localização e vistas, ao ambiente cultural riquíssimo – já que ao virar da esquina nos podemos sentir em Itália. Ou, por exemplo, nas páginas de algum compêndio de História da Arte. Tal é a qualidade e quantidade de imagens, de um formulário arquitectónico antigo, em que por aqui se está imerso.
O tempo, cronos, e os seus sinais - por vezes quase intocados - envolvem-nos**.
Indo das pedras, perpeanhos que alguém nos disse que podem ter vindo da antiga Ammaia, para construir as bases do que foi o castelo de Portalegre; mas chegando também às árvores e aos frutos. Que, idem aspas, essas árvores apesar da antiguidade que têm. ainda vão dando frutos saborosos e únicos
Portanto, e antes que a chuva os fizesse cair, lá fomos apanhá-los
Da figueira cujas folhas podem ser as maiores de Portalegre? Além de - provavelmente (e como nos têm dito) - ser um tipo de árvore que já não é muito comum encontrar-se...
Terá 100, ou até mesmo 200 anos?
Assim ontem oferecemos figuinhos de capa rota, ou roxa, como são estes, experimentando doces e purés, para comer com requeijão, e tudo o resto que se queira.
E sobre esses petiscos, on va voir !, já que nos espera uma outra tarefa: tentar escrever a história desta Casa
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*Embora talvez não tenha sido sempre assim particularmente para a infeliz (como se pode supor...) Maria Eugénia Romo de Castro Ataíde que viveu entre 1853 e 1902, a menina que, aparentemente, se terá «negado» a ser Viscondessa de Abrançalha.
**E hoje também o tempo da metereologia. Pois a mudança de estação a fazer a passagem do calor seco para o húmido, e para temperaturas mais baixas, carrega o ar de humidade relativa, dando-nos a sensação de estar num clima tropical.
É que acabei de ouvir – hoje -, talvez há pouco mais de uma hora?, sobre as «péssimas condições» em que estou aqui, em Portalegre, numa casa que foi em tempos das mais afamadas; e em que, como se diz num livro*, foi espaço de lazer “...dos ricos da cidade...”
Sim, e a afirmação ouvida é verdade; aliás as duas coisas são verdade. A casa foi isso, assim como as condições em que se está, connosco a usá-la, podem ser vistas como as de um ermita.
Mais, no comentário que ouvimos, constavam para comparação, presídios, casernas, e até instalações da tropa. Onde, para o tal «comentador», as condições não são tão extremas quanto as que aqui existem...
É então que me lembro (e me pergunto) sobre o que ficou no título:
Será que as pessoas de facto têm a noção de tanto, de muito excesso e do muito supérfluo (para lá do mais essencial) com que em geral todos vivemos?
Quer nas condições de conforto**, quer nas tralhas e bibelots (ou nas centenas de livros - que são as nossas queridas bibliotecas privadas!). Tralhas de que enchemos os nossos cenários de vida, que são as casas em que habitamos...?
Será que não são possíveis vidas normais e ricas; i. e., interessantes e muito confortáveis, mas tendo menos? Será que não temos conhecimento de realidades extremas a que poucos ou nenhuns acodem, como este link e suas reflexões nos mostra, ao falar de casas que são comparáveis a verdadeiros buracos?
É então que vem a propósito a nossa profissão, e as muitas diferentes maneiras de a exercer: Nem sempre a fazer palácios, ou a trabalhar para as classes altas.
E para além disso, quando se projecta, também se sabe que nem todos os projectos, ou as respectivas obras, se realizam: pois estas têm - e ainda bem - ora doses de realidade, ora doses de sonho.
E isto, o estar aqui, não é resiliência. O bem-estar não tem a ver com o ter. É que para se Ser é melhor começar pelos valores imateriais.
O Ser também se faz - e sente feliz -, com várias e diferentes actividades. Ou, será que nunca ouviram falar de dopamina?***
Em suma, pode parecer o contrário?, mas o que aqui temos - além de história, cultura e património impregnado de passado - pode ser visto como um luxo!
*Cujo autor e título são: Domingos Bucho, Portalegre Visita Guiada (bilingue), Edição da CM Portalegre, Portalegre 2020. A página e os destaques ampliados vêm desse livro.
**É que se aqui temos um certo deficit de conforto, pelo menos temos imenso espaço – o que também é conforto, designado desafogo - como sabe bem, quando se está de férias...
***E sobre esse neurotransmissor encontrou-se esta informação.