Agora Portalegre vai ser Havana...!? (mas, francamente, e à conta da minha casa?, acho um enorme provincianismo...)
Imagine-se «o bom do Palácio Amarelo», que está em Portalegre, quieto e alcandorado - como alguns dizem, e nós acrescentamos - ao sol, à chuva, e ao vento!
Hiper-desprotegido, como se sabe, pois pelo menos na minha parte sei bem como está*, já que não tenho dinheiro para mais...
Mas então, e agora, o dito que foi a nobre Casa dos Abrançalhas, remodelado com um imenso amor carinho, como lá está escrito, numa campanha de obras que terá terminado em 1803, vira uma casa havaneza ?
Apesar de ter as respectivas marcas (ou Pedras de Armas) em dois cunhais exteriores, assim indiciando duas fases, ou duas propriedades, não forçosamente ligadas.
O dito Palácio, que está órfão de protecção, e deixado ao «deus-dará», há mais de 50 anos (!).
Esta «estrelinha» da cidade de Portalegre, ou um dos seus mais notáveis Ex-libris - para dizer com formalidade -, esta Casa vira agora vedeta?
E pelas piores razões?
Exactamente pelo estado de degradação e de desatenção (até à parte maior...) que a CM de Portalegre, obrigatoriamente lhe impôs? E por isto - pelo desprezo e pelos maus-tratos que tem sofrido - a nossa casa, fruto desses sucessivos maus-tratos vai agora estar nas filmagens de Francisco Manso, como cenário barato; ou uma ideia a parecer de «gosto muito manhoso»?
E assim a passar do meio de Alentejo para o Oceano Atlântico, na periferia das Américas...?
Vejam só, como por dá cá aquela palha - pois nem consultada fui, inclusivamente para me encherem as paredes, e a porta de tinta castanha; de uma cor de lama, que não é de água, nem lavável, mas de spray. E que por isso ao ser removida, as ditas manchas de lama fingida, a porta e as paredes, vão ficar ainda mais manchadas do que já estão...
Só que, as manchas do sol que já lá estão - numa porta que foi pintada em 2015 -, são bem diferentes das do diluente agressivo, que naturalmente tem que ser aplicado, mais a palha-de-aço, para remover tudo o que entenderam salpicar; para que no filme possa parecer sujo, antigo e enlameado!
Porém, e já que continuamos «no mesmo modo», i. e., com a Câmara Municipal de Portalegre a não perceber nada, ou a não conhecer nada do que devia saber. Ou seja, a continuar a portar-se como se na cidade fosse tudo lixo... Algo que nos diz muito sobre a Edilidade - e como, apesar desta palavra, nada sabe de edificações e do seu valor.
Por isto, continuamos a ter que assistir ao ignorar d' o como se devem fazer as coisas!
O que, obviamente, mais uma vez, aqui estamos a denunciar.
Já que, tanta ignorância, a dada altura, torna-se até impossível de justificar. Perguntando-se: Não há Arquitectos na Câmara? As funções dos Edis, num tempo em que todas as profissões estão altamente especializadas, não são enriquecidas/completadas com os saberes dos profissionais dos Serviços camarários? E estes não dão pareceres, não aconselham, e não demovem as presidências dos actos, e dos objectivos em que embarcam, só porque são pobrezinhos...?
Objectivos que, mas não o vêem, são altamente contraditórios? Pois no fim apenas se traduzem, mais uma vez, num crescente desvalorizar da Sua Cidade?
E da qual, a Câmara Municipal de Portalegre, sem vergonha, ainda se gaba...
Mais: quem não sabe como ainda antes de 1970, desde então a Câmara foi inquilina do edifício, primeiro para biblioteca da Gulbenkian, e depois para tudo o resto? Deixando-o repleto de modificações, com revestimentos extra que não repôs no estado inicial, e como estava quando lá se instalou?
Quem não sabe que para a CM sair de vez tivemos que pagar a um advogado, para conseguir convencer/dizer à Senhora Presidente que a casa é particular, e que a Câmara, enfim, teria que a devolver? O que só aconteceu no Verão de 2014...
Quem na Cidade não sabe que a CM emprestou (a Casa) a alguém durante 3 anos, servindo como armazém de um restaurante (aliás armazém cheio de ratos!), e sem pagar a renda à Senhoria desde Abril de 2011?
Quem não sabe na Cidade que foram feitas várias promessas de apoio(s), já que a CÂMARA em 2014/15 estava endividada e paupérrima, e portanto esta CM é incapaz de cumprir o que está na lei?
Quem na Cidade não sabe, de toda esta pouca-vergonha? E que, estando nós calados a estamos a silenciar? Mas, para a qual (pouca-vergonha) fomos alertados, felizmente, e com grande clareza, por um honestíssimo responsável das finanças locais?
Por isso aqui dizemos que se mantém o modus operandi :
Que é o da ignorância, o do deixa lá passar mais esta aldrabice e falcatruazita; o deixa lá ganhar alguma coisinha, com o já tão desprestigiado, abandonado e maltratado Largo Cristóvão Falcão, mais os seus edifícios...
Pois para tanto provincianismo, em vez de se tentar promover a identidade, ÚNICA!, de uma cidade do país que tem personalidade e valor cultural (caso isto fosse reconhecido e defendido!); ao menos assim, tudo destruído, estas ruínas - que ainda por cima são as de um imóvel classificado (ou seja com algum valor cultural e personalidade, como está consignado, legalmente, há décadas) - servem, nem que seja, como cenário de cinema...
Vindo assim o filminho da RTP sobre Eça de Queirós, em parte rodado no Alentejo (para parecer Havana), a não ser de alguma especial utilidade para a Cidade. Bem pelo contrário, sendo desprestigiante. Por não servir a personalidade e o carácter de Portalegre. Que o tem... sim! Mas não na perspectiva provinciana, e de mentes curtas, como vai passando pelas da edilidade local.
Ou, será que não estamos a saber (?), e em troca a RTP contratou/prometeu que vai fazer uma longa reportagem, devidamente promotora dos valores de Portalegre, uma cidade que está tão incrivelmente esquecida? Ou não estamos a saber, e até nos vão pagar, pelo que pouparam em não ir a Havana, e o que pouparam em cenários, e o que pouparam em não contratar carpinteiros e outros locais, cujo emprego e promoção escasseiam, vergonhosamente, na capital do Alto Alentejo?
E se não sabemos é bom sinal! O de que a cidade até vai ganhar com isto...?
Só que, e posta a pensar na questão, vê-se como ela é, sobretudo, muito inspiradora!
Porque na verdade, se Eça é completamente alheio à forma como a RTP reconstitui o seu passado, e quiçá o romanceia (?), não esqueçamos que houve na vida de Eça uma enorme modernidade, e uma inteligência, que, pode-se dizer, ele nos ensinou.
A mim ensinou, nunca o esquecerei, quando um dia, da Selecta Literária dos tempos de liceu (em 1964?) saiu uma frase que ainda hoje cito, e que é mais ou menos isto:
"Falemos mal, orgulhosamente mal, as línguas estrangeiras". Algo que a professora explicou, como uma valorização e um reconhecimento da própria língua, para não se perder a sua riqueza e identidade...
Mais, ou seja, se há coisa que Eça nos ensinou, e sobre a qual escreveu, foi sobre o saber, o conhecimento, e os comportamentos a evitar das mentes provincianas!
Ele que comparou citadinos e serranos; ele que pôs o diletante Carlos (Eduardo) da Maia no centro da capital do país, a dizer que Portugal era Lisboa, e - "...tudo o resto paisagem!". Assim mostrando o que ainda hoje, agora neste caso, tão lamentavelmente, se está a assistir.
Só que, por nós, em pleno século XXI, achamos que nem toda a província tem que ser provinciana!
Mesmo que os poderes instituídos - os particulares, com a força do seu dinheiro (e a sua negação do ócio), ou os públicos -, mantenham ad æternum, os seus tiques de ignorantes-arrogantes, de pobres (de espírito) autoritários e caciqueiros! Sem nunca se esforçarem para irem mais longe...
Ou será que na tumba, ao Eça, tudo isto lhe lembra a Casa Havaneza do Chiado? Iremos nós, na Casa de Portalegre, passar a vender charutos (de vintém)...?
Caro leitor, claro que, com tanta ignorância e «comportamentos desclassificados» a raiva é muita. Por isso daqui vai para EÇA: Não lhes perdoes, pois é o "pot pourri" do costume!
É que além de desconhecerem, «eles» enchem também o pote, sempre, da sua maldade propositada**
*Assim como sei aquilo que me custou (e vai continuar a custar, quer em sacrifícios pessoais quer em euros)
**Para não lhe chamar outra coisa...
Imagens vindas do livro de Maria Filomena Mónica, Quetzal, Lisboa 2001.
Quanto à Havaneza, a loja de tabacos e similares, é da nossa responsabilidade a associação (talvez não infundada?) com o espírito queirosiano, que, para muitos, ainda habita o Chiado.